O uso de substâncias psicoativas é algo que está atrelado à condição humana, porém não quer dizer que as dependências sejam inevitáveis. Existe registro remoto de uso de substâncias químicas pelo homem com efeito sobre o sistema nervoso central para apaziguar dores, angústias, tristezas, para dar coragem, para socialização e até para elevar aos deuses.
Drogas são substâncias psicoativas utilizadas para produzir alterações nas sensações, no grau de consciência ou no estado emocional. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da pessoa que a usa, o tipo e quantidade de droga utilizada, o efeito esperado da droga e as circunstâncias em que é consumida. As drogas ilícitas são aquelas cuja comercialização é proibida pela justiça.
As drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo, por essa razão, denominadas psicoativas. Basicamente, elas são de três tipos:
Drogas Depressoras: São drogas que diminuem a atividade mental, afetando o cérebro, fazendo com que ele funcione de forma mais lenta. Essas drogas diminuem a atenção, a concentração, a tensão emocional e a capacidade intelectual.
Exemplos: ansiolíticos (tranquilizantes), álcool, inalantes (cola), narcóticos (morfina, heroína) e solventes.
Drogas Estimulantes: São substâncias que aumentam a atividade mental, afetando o cérebro, fazendo com que ele funcione de forma mais acelerada.
Exemplos: cafeína, tabaco, anfetaminas, cocaína e crack.
Drogas Alucinógenas (ou psicodislépticas): Correspondem às substâncias que alteram a percepção, provocando alterações no funcionamento do cérebro.
Exemplos: LSD, ecstasy, maconha e outras substâncias derivadas de plantas ou cogumelos (ayahuasca, ibogaína, sálvia, mescalina, psilocibina, por exemplo)
Vários são os motivos que levam à dependência química. De alguma maneira, as drogas sempre pervertem o sistema de recompensa, a busca por prazer. A pessoa passa a dar-lhes preferência quase absoluta, mesmo que isso atrapalhe todo o resto em sua vida. Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam significado todas as outras fontes de prazer.
A dependência é um processo de aprendizado. O fumante, por exemplo, pela manhã já manifesta sintomas da abstinência. Fica irritado e sua capacidade de concentração baixa. Ele fuma, o desconforto diminui. Vinte minutos depois, o nível de nicotina no cérebro cai, voltam os sintomas da abstinência e ele vai aprendendo a usar a droga pelo efeito agradável que proporciona e para evitar o desprazer que sua falta produz. A dependência é fruto, então, do mecanismo biopsicológico que a um só tempo induz o indivíduo a buscar o prazer e evitar o desprazer, e fruto das alterações cerebrais que a droga provoca. Essa interação entre aspectos psicológicos e efeito farmacológico vai determinar o perfil dos sintomas de abstinência de cada pessoa. A compulsão é menor naquelas que toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas que a inquietação é intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência.
Um fato importante aqui é que dependentes químicos têm maior chance de desenvolver uma patologia psiquiátrica ou de tê-las anteriormente. E a identificação destas doenças conjuntas é importante para planejar o tratamento mais adequado e melhorar as chances de sucesso a longo prazo. Dentre as comorbidades psiquiátricas mais comumente encontradas entre os dependentes químicos destacam-se os transtornos depressivos e ansiosos e os transtornos de personalidade.
O tabaco é uma planta cujo nome científico é Nicotiana tabacum, da qual é extraída uma substância chamada nicotina. Seu uso surgiu aproximadamente no ano 1.000 a C., nas sociedades indígenas da América Central, em rituais mágico-religiosos com objetivo de purificar, contemplar, proteger e fortalecer os ímpetos guerreiros, além de acreditar que a mesma tinha o poder de predizer o futuro. A planta chegou ao Brasil provavelmente pela migração de tribos tupis-guaranis. A partir do século XVI, o seu uso foi introduzido na Europa, por Jean Nicot, diplomata francês vindo de Portugal, após ter-lhe cicatrizado uma úlcera de perna, até então incurável.
Os principais efeitos da nicotina no Sistema Nervoso Central são: elevação leve no humor (estimulação) e diminuição do apetite. A nicotina é considerada um estimulante leve, apesar de um grande número de fumantes relatarem que se sentem relaxados quando fumam. Essa sensação de relaxamento é provocada pela diminuição do tônus muscular.
Essa substância, quando usada ao longo do tempo, pode provocar o desenvolvimento de tolerância, ou seja, a pessoa tende a consumir um número cada vez maior de cigarros para sentir os mesmos efeitos que originalmente eram produzidos por doses menores.
Alguns fumantes, quando suspendem repentinamente o consumo de cigarros, podem sentir fissura (desejo incontrolável por cigarro), irritabilidade, agitação, prisão de ventre, dificuldade de concentração, sudorese, tontura, insônia e dor de cabeça. Esses sintomas caracterizam a síndrome de abstinência, desaparecendo dentro de uma ou duas semanas. A tolerância e a síndrome de abstinência são alguns dos sinais que caracterizam o quadro de dependência provocado pelo uso de tabaco.
A nicotina produz um pequeno aumento no batimento cardíaco, na pressão arterial, na frequência respiratória e na atividade motora. Quando uma pessoa fuma um cigarro, a nicotina é imediatamente distribuída pelos tecidos. No sistema digestivo provoca queda da contração do estômago, dificultando a digestão. Há um aumento da vasoconstricção e na força das contrações cardíacas.
A fumaça do cigarro contém várias substâncias tóxicas ao organismo. Dentre as principais, citamos a nicotina, o monóxido de carbono, e o alcatrão. O uso intenso e constante de cigarros aumenta a probabilidade de ocorrência de algumas doenças como por exemplo a pneumonia, câncer de pulmão, problemas coronarianos, bronquite crônica, além de câncer em regiões do corpo que entram em contato direto com a fumaça como garganta, língua, laringe e esôfago. O risco de ocorrência de infarto do miocárdio, angina e derrame cerebral é maior nos fumantes quando comparado aos não fumantes. Existem evidências de que a nicotina pode provocar úlceras gastrointestinais. Entre outros efeitos tóxicos provocados pela nicotina, podemos destacar ainda náuseas, dores abdominais, diarreia, vômitos, cefaleia, tontura, bradicardia e fraqueza.
Atualmente, é possível utilizar medicamentos, psicoterapias e outras ferramentas para facilitar a vida de quem quer ou precisa parar de fumar. As pesquisas têm mostrado que o tratamento simples ou combinado, aumenta em muito a chance de o fumante tornar-se um ex-fumante.
Resultado do teste:
0-2 pontos: grau de dependência física muito baixo
3-4 pontos: grau de dependência física baixo
5 pontos: grau de dependência física médio
6-7 pontos: grau de dependência física elevado
8-10 pontos: grau de dependência física muito elevado
Referência Bibliográfica:
1.Fagerstrom KO. Measuring degree of physical dependence to tobacoo smoking wiht reference to individualization of treatment. Addict Behav. 1978; 3 (3-4):235-41.
A síndrome de dependência de álcool é um transtorno mental bastante prevalente pois atinge cerca de 8% da população brasileira e traz muitas repercussões negativas para o portador e sua família, a curto e longo prazo. É possível perceber que alguém está dependente de álcool quando apresenta 3 ou mais dos seguintes sintomas:
Importante dizer que cerca de 50% dos dependentes de álcool tem outro transtorno psiquiátrico associado, como depressão, ansiedade e transtorno bipolar. Quando essas patologias duplas são reconhecidas e tratadas simultaneamente o prognóstico melhora. As sequelas clínicas do alcoolismo como cirrose hepática, varizes de esôfago, encefalopatias, diabetes e outras condições também devem ser citadas e serão as maiores causas de morte relativas ao transtorno.
O tratamento, como em toda dependência, começa pela percepção básica do próprio portador e sua motivação para a mudança. Já na síndrome de abstinência pode ser necessário intervir mesmo sem o paciente pedir ajuda, devido ao risco clínico. O tratamento é efetivo e deve ter como objetivo a recuperação a longo prazo, com a prevenção de recaídas, e não a cura. O tratamento é personalizado e visa manter a pessoa motivada a continuar sem usar álcool. Agregar o uso de medicamentos, com psicoterapia, grupos de ajuda mútua (AA), tratamento dos diagnósticos psiquiátricos, reinserção social, mudanças de estilo de vida, pratica de atividade física são peças fundamentais para uma evolução favorável. Em casos graves pode ser necessária a internação hospitalar.
Associações e links:
Alcóolicos Anônimos (AA)
Narcóticos Anônimos (NA)
ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria)
APBr (Associação Psiquiátrica de Brasília)
Leituras: Guia Introdutório para Narcóticos Anônimos (NA – online)
Filmes: Réquiem para um sonho – 2000, Meu nome não é Johnny – 2008, 28 dias – 2000, Ray – 2004, Sem destino – 1969, Medo e delírio – 1998, À sombra do vulcão -1984.